Contemplando a substância
- Edgard Leite Ferreira Neto
- há 2 dias
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Atualizado: há 15 horas

O que buscamos no passado? Inicialmente, buscamos um sentido. Aquele elemento que atravessa os instantes, permitindo que sejamos algo reconhecível para nós mesmos e passível de reconhecimento para os outros. E falamos aqui de nós, pessoas, ou de nós, sociedades. A busca do sentido é o da nossa vocação, da razão que nos explica e nos faz atravessar a vida, não apenas diante do momento, ou das repetições, mas atravessando os momentos e as repetições. E encontrando, na existência, aquilo que nos torna o que somos.
No passado contemplamos, igualmente, nossas decisões, e como estas turvam, ou fortalecem, nossa direção na jornada da vida. Elas acentuam, nos seus acertos e nos seus erros, a forma como entendemos o mistério de nosso dom, de nossa vocação, e permitem que este vá tomando forma em nossa consciência. Pois a cada ato o sentido vai adquirindo consistência e nos permite identificá-lo como questão interior - a que nos movimenta desde o primeiro momento em que nos espantamos com o fato de estarmos aqui, e não em outro lugar.
Na recuperação dos fragmentos de memória e de seus vestígios documentais ou monumentais que nos acompanham, textos, fotos, relações (isto é história), nos defrontamos com a realidade necessária do perdão, a nós mesmos, aos outros, e o reconhecimento de que todos têm também seus sentidos, suas decisões, e caminham pela jornada da existência buscando a realização daquilo que portam como tema mais íntimo. Este nunca será, em si, ameaça aos outros, mas sempre ânsia de vir à tona no mundo.
Quando voltamos ao passado também podemos reconstruir pela imaginação e pela memória (que estão no mesmo lugar), os momentos em que uma força misteriosa nos move daqui para ali, nos colocando diante de resoluções a serem tomadas que nos conduzem a direções que sempre nos beneficiam na percepção de nossa identidade. Contemplando o passado podemos perceber os pequenos e grandes milagres cotidianos, que nos salvam da repetição no tempo.
A experiência do passado, com sua ternura e beleza, é a contemplação da substância a tornar-se acontecimento. A minha, a dos outros.
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